O Flamengo já nasceu com a garra e o espírito vencedor. A idéia da
criação de um grupo organizado de remo surgiu em bate-papos de jovens do
bairro no Café Lamas, no Largo do Machado. O objetivo era entrar na disputa com clubes de outros bairros, como o de Botafogo, que já atraíam a atenção das mocinhas da época.
Jovens remadores - José Agostinho Pereira da Cunha, Mário Spindola,
Nestor de Barros, Augusto Lopes, José Félix da Cunha Meneses e
Felisberto Laport – resolveram comprar um barco. O escolhido foi um já velho, porém adequado às finanças disponíveis. Cotizaram o dinheiro, adquiriram o primeiro patrimônio, que foi nomeado de Pherusa, e fizeram uma reforma completa para utilizá-lo.
No dia 6 de outubro, os jovens, mais Maurício Rodrigues Pereira e
Joaquim Bahia, foram dar a primeira volta com o barco. Saíram da Ponta
do Caju, na praia de Maria Angu (atual Ramos), de tarde. Mesmo com o
tempo ameaçador no céu, Mário Spindola dirigiu rumo à praia do Flamengo.
Então, o primeiro grande desafio do grupo surgiu. O forte vento virou a
embarcação e os náufragos tiveram que se segurar no que restou da
Pherusa.
Joaquim Bahia, excelente
nadador, saiu até a praia em busca de ajuda. Mas a chuva cessou e logo
apareceu um outro barco, o Leal, de pescadores da Penha, e fez o resgate
dos jovens e da Pherusa. A preocupação passou a ser Bahia, que depois
de quatro horas chegaria à praia, tornando-se o primeiro herói do
Flamengo.
A recuperação de Pherusa foi iniciada novamente. Quando ela já estava
quase pronta, foi roubada e nunca mais vista. Mas o entusiasmo em fundar
um grupo de regatas não desapareceu.
Os jovens decidiram comprar outro barco. George Lenzinger, José
Agostinho, José Félix e Felisberto Laport entraram na história, juntaram
o dinheiro necessário e compraram o Etoile, de Luciano Gray, logo
batizado de Scyra e registrado na Union de Canotiers.
Na noite de 17 de novembro de1895, no casarão de Nestor de Barros,
número 22 da Praia do Flamengo, onde era guardada a Pherusa e depois a
Scyra, foi fundado o Grupo de Regatas do Flamengo e, com ele, eleita a
sua primeira diretoria: Domingos Marques de Azevedo, presidente;
Francisco Lucci Colás, vice-presidente; Nestor de Barros, secretário;
Felisberto Cardoso Laport, tesoureiro.
Destacados ainda como sócios-fundadores, José Agostinho Pereira da
Cunha, Napoleão Coelho de Oliveira, Mário Spíndola, José Maria Leitão da
Cunha, Carlos Sardinha, Eduardo Sardinha, José Felix da Cunha Menezes,
Emygdio José Barbosa (ou Emygdio Pereira, ou ainda Edmundo Rodrigues
Pereira, há controvérsias) Maurício Rodrigues Pereira, Desidério
Guimarães, George Leuzinger, Augusto Lopes da Silveira, João de Almeida
Lustosa e José Augusto Chalréo, sendo que os três últimos faltaram à
reunião, mas assinaram a ata dias depois e receberam o título.
No encontro, foi acordado que a data oficial seria a de 15 de novembro,
pois no aniversário do Flamengo sempre seria feriado nacional (Dia da
Proclamação da República), e que as cores oficiais seriam azul e ouro,
em largas listras horizontais.
Primeiras competições, vitórias e mudanças
A preocupação com o nacionalismo foi marcante no início do Flamengo.
Primeiramente, a denominação de grupo, ao invés de clube, palavra
estrangeira. Depois, com a aquisição de novos barcos ao longo dos anos, a
origem dos nomes foi a indígena (Aymoré, Iaci e Irerê) ao invés dos
antigos, derivados do grego (Pherusa e Scyra).
Mas foi com a Scyra mesmo que o Flamengo entrou em sua primeira
competição. Um fiasco, causado pela inexperiência dos seus remadores,
que comeram um bacalhau à portuguesa com vinho verde antes da disputa. O
barco bateu na baliza de sinalização, a tripulação enjoou e, no fim, a
embarcação do Botafogo rebocou a Scyra. Passado o primeiro vexame, o
Flamengo começou a competir, mas só conseguiu chegar em segundo e
terceiro lugar. Por isso, foi logo chamado de Clube de Bronze.
A primeira vitória veio no dia 5 de julho de 1898, na I Regata do
Campeonato Náutico do Brasil, com Irerê, uma baleeira a dois remos.
Nesta época, o Flamengo já reunia seguidores de todas as classes
sociais, dos intelectuais, passando pelas famílias tradicionais, até os
empregados de comércio, todos torcedores fanáticos do grupo. As mocinhas
que caminhavam na praia do Russel acabam sempre no número 22 e a sede
do Flamengo ficou conhecida como a "República da Paz e do Amor".
Antes um pouco, em 23 de novembro de 1896, uma das mudanças mais
significativas na história do Flamengo. Como as camisas do uniforme,
listradas nas cores azul e ouro, eram importadas da Inglaterra e
desbotavam com facilidade devido ao sol e ao mar das competições do
remo, Nestor de Barros propôs que elas fossem para vermelha e preta.
Junto com a mudança das cores e o crescimento do Flamengo, veio a
transformação de Grupo em Clube, sugerida pelo poeta e cronista Mário
Pederneiras. Estava definitivamente concretizado o amor rubro-negro pelo
Clube de Regatas do Flamengo.
Futebol disputa espaço com o remo
Depois de começar mal no remo, o Flamengo foi pegando experiência com o
tempo. Afinal, outros grupos já existiam há mais tempo e venciam as
competições com maior freqüência, como o Gragoatá, o Botafogo e o Vasco
da Gama. As primeiras provas eram conquistadas enquanto a paixão pelo
clube aumentava.
A partir do início do século XX, o futebol começava a disputar
popularidade na cidade do Rio de Janeiro com o remo. Mas, como o clube
rubro-negro não dispunha de departamento de esportes terrestres, seus
sócios eram obrigados a acompanhar o Fluminense também, pois em
Laranjeiras havia um time para torcer.
O maior exemplo desta divisão era Alberto Borgerth. Pela manhã, era
remador no Flamengo. À tarde, representava o Fluminense no futebol. Os
torcedores, sem opção para acompanhar os dois esportes em um só clube,
seguiam o mesmo comportamento, dividindo-se na paixão clubística.
O Flamengo, então, começou a dar os seus primeiros passos no nobre
esporte bretão. O clube começa a disputar alguns amistosos. No primeiro,
realizado dia 25 de outubro de 1903 no Estádio do Paissandú Atlético
Clube, perde do Botafogo por 5 a 1, com a seguinte formação: G.V. de
Castro, V. Fatam, H. Palm, Sampaio Ferraz, A. Gibbons (capitão), L.
Neves, C. Pullen, M. Morand, A. Vasconcelos, D. Moutinho e A. Simonsen,
com os reservas M. Gudin e A. Furtado.
Uma curiosidade é que o time de futebol não entrava em campo com o
uniforme oficial do Flamengo. No primeiro jogo, vestiu camisas brancas e
shorts pretos. Depois, foi obrigado a usar o Papagaio de Vintém e a
Cobra Coral. O esporte era malvisto pelo remo rubro-negro e, por isso, o
clube só se filiou à Liga Metropolitana de Futebol – criada em 1905 -
em 1912, depois do ingresso dos ex-tricolores, ficando cerca de nove
anos disputando somente amistosos.
O futebol oficial no Flamengo
O futebol do Flamengo é dissidente do Fluminense. Em 1911, o tricolor
estava às vésperas do título carioca, mas, atravessava grave crise
interna. O capitão do time, Alberto Borgeth (o mesmo que remava pelo
Flamengo), se desentendeu com os dirigentes e, depois de conquistado o
campeonato, liderou um movimento de saída das Laranjeiras. Dez jogadores
campeões deixaram o Fluminense: Othon de Figueiredo Baena, Píndaro de
Carvalho Rodrigues, Emmanuel Augusto Nery, Ernesto Amarante, Armando de
Almeida, Orlando Sampaio Matos, Gustavo Adolpho de Carvalho, Lawrence
Andrews e Arnaldo Machado Guimarães.
Dia 8 de novembro, foi aprovado o ingresso dos novos sócios. Os
remadores do Flamengo, porém, não eram favoráveis à dedicação oficial do
clube rubro-negro ao futebol, caso que estava sendo analisado por uma
comissão da qual o líder era justamente Alberto Borgerth.
Mas não teve jeito mesmo. Em assembléia realizada no dia 24 de dezembro
de 1911, o Flamengo criou oficialmente o seu time de futebol, sob a
responsabilidade do Departamento de Esportes Terrestres.
A equipe treinava na praia do Russel e conquistava maior simpatia ainda
com o povo, que acompanhava de perto os atletas no dia-a-dia. No
primeiro jogo oficial, realizado dia 3 de maio de 1912, no campo do
América, na Campos Sales, uma goleada, a maior da história do clube. O
Flamengo venceu o Mangueira por incríveis 15 a 2. A equipe rubro-negra
jogou com Baena, Píndaro e Nery; Curiol, Gilberto e Galo; Baiano,
Arnaldo, Amarante, Gustavo de Carvalho, e Borgerth. Gustavo Adolpho de
Carvalho marcou o primeiro gol oficial da história do Flamengo e fez
outros três no jogo. Arnaldo (4), Amarante (4), Borgeth (2) e Galo (1)
completaram o placar.
Como não possuía um campo próprio, o Flamengo mandava os seus jogos no
Fluminense. Depois de um tempo, arrendou um espaço na rua Paissandu, de
propriedade da família Guinle, e parou de considerar o estádio das
Laranjeiras como a sua casa.
O primeiro FLA X FLU e os primeiros títulos
No dia 7 de julho de 1912, o Flamengo disputou o seu primeiro Fla x Flu.
Os campeões dissidentes do tricolor que passaram a defender o
rubro-negro, porém, surpreendentemente perderam por 3 a 2 no confronto
com o ex-clube. Muitos dizem que por causa desta derrota é que abriu-se a
enorme ferida que alimenta a eterna rivalidade do clássico mais famoso
do mundo, o único que tem nome próprio.
Mas a primeira derrota para o rival não abalou em nada o ânimo
rubro-negro. Nos oito primeiros anos de disputa futebolística, dois
tricampeonatos nos 2º Quadros (aspirantes da época), 1912/13/14 e
1916/17/18, dois vice-campeonatos, em 1912/13, e um bicampeonato com a
equipe principal, 1914/15.
No primeiro título oficial conquistado pelo Flamengo, apenas uma
derrota, para o Botafogo, por 2 a 1. Já o bicampeonato foi invicto.
Destacou-se nas duas campanhas o artilheiro Riemer, com 8 gols em 1913,
14 e 15.
Conforme ia se afirmando como esporte importante no clube, o futebol
mudava de uniforme. Em 1912, a estréia oficial foi feita com a camisa
quadriculada em vermelho e preto, logo apelidada jocosamente de Papagaio
de Vintém pelos adversários. No ano seguinte, mudança para as listras
vermelha e preta, sendo que com um friso branco entre uma e outra.
Também ganhou apelido, o de Cobra Coral. Como era muito semelhante ao
pavilhão fascista alemão, em 1914 ficou determinado finalmente que os
jogadores do futebol poderiam usar o mesmo uniforme dos remadores,
implantando-se, enfim, a igualdade nos dois esportes. O resultado foi a
conquista do primeiro título. Superstição ou não, funcionou e continuou
assim.
Mas, após o bicampeonato de 1914/15, o Flamengo sofreu um duro golpe. A
família Guinle não quis renovar o contrato de arrendamento do campo de
treino da rua Paissandu, dando somente a opção de compra. Como o clube
não dispunha de verbas para investimento de tal vulto, ficou com o prazo
até o dia 31 de dezembro de 1931 para deixar o local.
A conquista definitiva do povo
A década de 20 foi boa para o Flamengo. Depois de conquistar os títulos
de 1914/15 no futebol, o clube voltou a levantar o título carioca em
1920, de forma invicta e marcando a primeira dobradinha com o remo - que
havia ganho pela primeira vez no bicampeonato de 1916/17 - sendo
campeão de terra e mar.
A taça de 1920 também foi importante para aumentar ainda mais a
rivalidade com o Fluminense. Com a conquista, o Flamengo impediu, pela
primeira vez, um tetracampeonato do tricolor.
Em 1921, novo título no futebol. Os principais nomes do time eram os
atacantes Junqueira, Candiota, Nonô e Sidney, Porém, nos três anos
seguintes, o Flamengo foi vice-campeão seguidamente, voltando a
conquistar o Carioca somente em 1925. Nesta campanha, só foi derrotado
uma vez - pelo Fluminense, placar de 3 a 1 -, venceu pela primeira vez
outro tradicional rival, o Vasco da Gama, por 2 a 0, e teve em Nonô o
grande artilheiro e destaque novamente, com 27 gols em 18 jogos.
Hino do Flamengo
Uma vez Flamengo,
Sempre Flamengo.
Flamengo sempre eu hei de ser
É o meu maior prazer
Vê-lo brilhar
Seja na terra,
Seja no mar.
Vencer, vencer, vencer
Uma vez Flamengo,
Flamengo até morrer!
Na regata, ele me mata,
Me maltrata, me arrebata
De emoção, no coração
Consagrado, no gramado
Sempre amado, o mais cotado
nos Fla-Flus é o ai Jesus
Eu teria
Um desgosto profundo
Se faltasse,
O Flamengo no mundo.
Ele vibra, ele é fibra
Muita libra já pesou
Flamengo até morrer
Eu sou.
O Flamengo já nasceu com a garra e o espírito vencedor. A idéia da
criação de um grupo organizado de remo surgiu em bate-papos de jovens do
bairro no Café Lamas, no Largo do Machado. O objetivo era entrar na disputa com clubes de outros bairros, como o de Botafogo, que já atraíam a atenção das mocinhas da época.
Jovens remadores - José Agostinho Pereira da Cunha, Mário Spindola,
Nestor de Barros, Augusto Lopes, José Félix da Cunha Meneses e
Felisberto Laport – resolveram comprar um barco. O escolhido foi um já velho, porém adequado às finanças disponíveis. Cotizaram o dinheiro, adquiriram o primeiro patrimônio, que foi nomeado de Pherusa, e fizeram uma reforma completa para utilizá-lo.
Joaquim Bahia, excelente
nadador, saiu até a praia em busca de ajuda. Mas a chuva cessou e logo
apareceu um outro barco, o Leal, de pescadores da Penha, e fez o resgate
dos jovens e da Pherusa. A preocupação passou a ser Bahia, que depois
de quatro horas chegaria à praia, tornando-se o primeiro herói do
Flamengo.